sexta-feira, dezembro 08, 2006

a beleza das sombras

21:30... não há luz... a cidade está completamente às escuras, só se vêem as pequenas sombras deixadas pelos faróis deste ou daquele carro que solitáriamente atravessa as ruas escuras... vento... chuva... e escuridão!

entro em casa. lá vem a niki, a minha cadela, com o rabiosque a abanar dar-me as boas noites... vou à sala e dou o olá aos meus velhinhos... de repente caio em mim e paro a olhar à volta. a casa estava diferente! com outro encanto, outro romantismo e outra beleza. o segredo? as velas que a minha mãe espalhou por todo o lado. as sombras dos quadros, dos móveis e dos mil e um cacos (como eu gosto de lhes chamar), a cor amarelada das chamas, o odor das velas de cheiro... tudo isto deu uma nova vida a um sítio que pensava conhecer como a palma da minha mão.

fui tomar um banho quente com o meu belo castiçal... tive a sensação que já há muito tempo um banho não me sabia tão bem. idiotiçe claro, mas não pude deixar de me envolver com a magia do momento e o regresso ao passado!

sento-me à mesa... velas mais uma vez! os rostos iluminados com uma ténue e magnífica luz que quase por magia faz sobressair todos os contornos e confere-lhes uma beleza rara. um jantar diferente sem dúvida... um jantar mágico!

levanto-me da mesa... peguei no vinho do porto e enchi um cálice que me acompanhou para o quarto. sento-me à secretária e ligo o computador. senti-me tentado a desliga-lo e a disfrutar o momento que a natureza me proporcionou em que (quase) nada do mundo moderno funciona e tudo o que temos é a companhia do próximo e o fogo... mas depois não resisti à tentação de registar o momento.

estou aqui sentado e não consigo deixar de pensar como teria sido o meu jantar e o meu fim de dia se tivesse chegado a casa como habitualmente e houvesse luz. provavelmente não teria oportunidade de apreciar todos os momentos que disfrutei ao segundo... provavelmente o jantar não teria sido tão mágico... provavelmente a caixinha mágica teria feito toda a gente precipitar-se para o sofá... provavelmente...

é incrível o romantismo e a beleza que uma simples vela consegue proporcionar! acho que me ia dar bem a viver num mundo em que tecnologia não nos poluisse tanto o nosso dia a dia.



"Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe." (Oscar Wilde)

2 comentários:

apple_orange_banana disse...

Tão achei fantástico quando aconteceu a última vez na minha casota :) mas só é mágico por ser raro.

Anónimo disse...

Não, a beleza não era consequência das sombras e de todo o ambiente que as velas criavam; não eram os cheiros nem o jantar tão diferente.
A beleza era consequência da luz que há dentro de ti, essa luz que iluminou o teu olhar para algo de magnífico que estava a acontecer à tua volta.
Porque cenários mágicos podemos encontrar todos os dias à nossa volta, nas mais simples versões da realidade. Mas à maioria do Ser Humano dos dias de hoje falta o tempo e a disponibilidade para saber Ver, para conseguir parar e aproveitar a beleza que está à sua volta, e absorver todas as boas sensações que ela pode causar; falta a força dessa luz interior que cada vez mais se vê ténue em cada Ser...
Não percas nunca a tua luz.